sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Entra em mim...

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Foi boa a ideia de parar de beijar. Treze minutos é muita coisa, faz calor, me dói os carrinhos, cãibra na língua. Mas, onde você pensa que vai, menino? Você prometeu que assistiríamos televisão e nada além. Aí, um drinque improvisado com duas doses de Martini com cereja em calda, como quem não quer quase nada, e na primeira cena erótica de "O Último Tango em Paris" você vai e muda os planos, com suas propostas silenciosas e olhares constrangedores, joelhos com joelhos, polegares arranhando cinturas, e outras fricções.

Meus pés são feios, eu acho, os dedos muito longos, não faz assim. Com boca, dentes e saliva, você desmente minhas neuras, desarma meus complexos infantis de feiúra, um por um, cheio de malícia, paciência e atenção, intercalando lambidas, paradas estratégicas e olhares experimentais. É madrugada, é tarde, eu preciso ir, melhor nem começar, vamos finalizar isso separados, cada um na sua casa, no chuveiro, vai ser melhor. Como pode? Você tem terceiro grau, sabe escrever e não sabe o significado da palavra "não"? Pois é, não é não, pelo menos na minha jurisdição. Mas, como eu não moro aqui, nesse corpo que até bem pouco tempo eu chamava de meu, admito. Você sabe lidar com ele bem melhor que eu. Você venceu.

Então, vou confessar. Quando sou capaz de manter os olhos abertos e me sinto ligeiramente confortável, acho bonitinho te ver passeando feito moleque em campo aberto, pulando cercas, subindo montes, descendo vales, colhendo amoras e framboesas, provocando o fogo, inflando a lua. E eu nem imaginava que os rapazes prestavam carinho a esse tipo de área. Você descobriu meu calcanhar de Aquiles, todos eles, e agora parece que tenho calcanhar de Aquiles no umbigo, na lombar, nas axilas, na nuca, atrás das orelhas, nas omoplatas, entre os dedos, no couro cabeludo, embaixo do queixo, ali atrás do joelho, onde não é coxa nem panturrilha. Olha lá o filme, essa parte é importante.

Fica quietinho, vai por mim, você de boca ocupada é quase um Barry White. Não precisava dizer que adorou minha calcinha com um exército de Betty Boop, eu sei que é um pouco grande e desproporcional pra situação, é que como eu disse, não era essa a intenção. Juro. No próximo convite, especifique se o traje é de passeio. Embora goste de surpresas, não sei viver sem me programar. Eu provavelmente passaria numa loja de departamento após o expediente e chegaria tarde porque fiquei uma hora e cinquenta indecisa entre a que dizia "tenho experiência suficiente pra fingir que sou uma virgem, porém não quero parecer só mais uma" e aquela que de tão pouco pano parecia descartável igual a dona. Você sabe que sou assim, meio súbita, quando viu, mudei de canal. Falando nisso, e a tevê?

Enfim, não fala nada, meio que estraga o clima. Quem você pensa que é, Serge Gainsbourg? O que você está fazendo? Não mexe aí, não me olha assim, feito um vencedor barato. Você só está deslizando a última peça pernas abaixo porque eu quis. Essa parte sempre me causa aflição, me faz sentir um pouco ridícula, nunca sei se os homens julgam essa parte do corpo das garotas, tenho medo que você ache meus lábios grandes demais, meu cheiro muito forte, se a depilação que preparei está muito radical ou lembra a Era Paleolítica, se você sabe a diferença entre entre clitóris e um botão de joystick.

Que saco, a que idade você precisa chegar, quantas primeiras vezes você precisa ter pra cessar esse tipo de fricote? Mas seus gestos são incansáveis e delicados. E pra minha surpresa, foi um toque lento, eficaz e sem dor. Uma agonia gostosa. Eu perguntei que gosto tinha, e você se fingindo pensativo, debochado, disse "doce como chocolate, e cítrico igual melancia". Ah, você só está sendo querido. E eu descobri que é possível enxergar cometas e asteroides através do teto creme do seu apartamento.

 
É estranhamente divertido. Ironicamente me sinto uma criança arteira, no meio de uma brincadeira. Me dá uma vontade insana de rir, será que fica bem? Exceto algumas canções, poucos filmes e um par de livros, sexo é a única coisa que eu experimentei que consegue me devolver à infância e, ao mesmo tempo, parece ser a coisa mais adulta que já fiz. Então, vamos logo com isso, agora quem quer sou eu, me come como se não houvesse o dia seguinte, porque não quero ficar esperando ninguém me telefonar. Me pega. Me preenche. Me puxa. Me cheira. Me vira. Me controla. Me treme. Me suja. Me tonteia. Me machuca. Nos próximos dias só quero lembrar você através de hematomas. Isso, assim.

Agora, entra em mim. Quero te ouvir depois, todo bobo, dizendo que me imaginava diferente, que meu jeitinho comportado era propaganda enganosa, que não esperava que eu fosse tão, como é que você diz?, tão "sem-vergonhazinha". Vou segurar um risinho de orgulho, mas, falando sério, não me ligue amanhã, vou morrer de vergonha. Deixa uns dias correrem. Não entenda mal, eu vou querer um romance. Sem gelo, por favor. Só que antes, agora que tudo terminou, faça-me um último agrado, se não for pedir muito. Não conte a ninguém que eu gosto desse tipo de coisa.

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